Escritório de advocacia de filha de desembargador afastado tem contrato milionário com a Prefeitura de Três Lagoas

Escritório de advocacia de filha de desembargador afastado tem contrato milionário com a Prefeitura de Três Lagoas
Camila Bastos, citada em investigação (Foto Divulgação)

Um contrato milionário entre a Prefeitura de Três Lagoas e o escritório de advocacia Bastos, Claro & Duailibi Advogados Associados, de propriedade da filha do desembargador Alexandre Bastos recentemente retirado sob preocupações de envolvimento em um esquema de venda de sentenças, está no centro de uma nova controvérsia. A ligação entre a administração municipal e o escritório de Camila Bastos em meio a uma investigação de grande magnitude, levanta sérias suspeitas de possível favorecimento e tráfico de influência.

A operação da Polícia Federal, que foi investigada no afastamento de Alexandre Bastos e outros desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, revelou um esquema no qual os magistrados estariam manipulando sentenças em troca de vantagens financeiras.

Grande parte dessas transações foi intermediada por escritórios de advocacia administrados por filhos e pais dos próprios juízes. No caso de Três Lagoas, o contrato de R$ 342 mil , firmado sem licitação, foi destinado à prestação de serviços jurídicos de alta complexidade, mas a conexão direta com o magistrado afastado levanta dúvidas sobre a real motivação da contratação.


Acesso ao Portal da Transparância da Prefeitura mostra registros de contratos celebrados entre município e escritório investigado 


Por que o Desembargador Alexandre Bastos é investigado?

O desembargador Alexandre Bastos está sendo investigado por sua suposta participação em um esquema de venda de decisões judiciais detalhadas, em troca de pagamentos ilegais. Segundo as apurações da Polícia Federal, Bastos estaria usando sua posição para facilitar julgamentos projetados a clientes representados por escritórios de advocacia administrados por seus filhos ou por advogados próximos. Essas investigações incluem interceptações telefônicas e análises de movimentações financeiras suspeitas, revelando uma possível estrutura de corrupção sistêmica no Judiciário do Mato Grosso do Sul.

A operação, batizada de “Última Ratio” , apura se esses escritórios familiares eram usados como uma fachada para intermediar a venda de sentenças. O envolvimento de Camila Bastos, filha do desembargador, e de seu escritório Bastos, Claro & Duailibi coloca a Prefeitura de Três Lagoas no centro desse escândalo. O contrato firmado com o escritório, baseado na inexigibilidade de licitação, é técnico permitido por lei em situações que exigem serviços especializados, mas, no contexto atual, levanta questões sérias sobre a integridade do processo.

Acesso ao Portal da Transparância da Prefeitura mostra registros de contratos celebrados entre município e escritório investigado 

 

O contrato milionário: Favorecimento ou coincidência?

A contratação do escritório Bastos, Claro & Duailibi pela Prefeitura de Três Lagoas foi feita sob a justificativa de prestação de assessoria jurídica e consultoria especializada em tribunais superiores e processos complexos. A escolha por inexigibilidade de licitação é comumente usada para contratar serviços que desativam conhecimento técnico específico, mas neste caso, o contrato foi firmado enquanto Alexandre Bastos ainda estava ativo no tribunal. Isso levanta uma questão: até que ponto a prefeitura foi influenciada pela posição do desembargador e sua relação com o escritório?

Embora a contratação tenha sido técnica legal, a situação gera uma perturbação evidente: o vínculo familiar entre a advogada Camila Bastos e o magistrado investigado pode ter facilitado a celebração do contrato? Houve, de fato, uma avaliação justa de outros sobre serviços ou o histórico familiar desempenhou um papel na decisão?

Movimentos Financeiros e Ligações Suspeitas

Além das suspeitas de tráfico de influência, a Polícia Federal investiga movimentações financeiras atípicas entre escritórios de advocacia de familiares de magistrados e prefeituras. No caso de Três Lagoas, ainda não há detalhes conclusivos divulgados, mas a trajetória de outros contratos semelhantes revela um padrão preocupante de favorecimento e corrupção. A relação entre a Prefeitura de Três Lagoas e o escritório da filha de um desembargador segue a mesma linha de investigações já realizadas em outros municípios, onde contratos com altos valores foram firmados sem licitação, seguidas de decisões judiciais detalhadas.


 

Registro de contrato celebrado entre a Prefeitura de Três Lagoas e o escritório de advocacia investigado (Foto Reprodução)

 

O silêncio da prefeitura sobre os critérios que levaram à escolha do escritório Bastos, Claro & Duailibi aumenta as dúvidas sobre a transparência do processo. Até agora, não houve explicações sobre como se deu a escolha desse prestador de serviços, o que não deixa ar a possibilidade de favorecimento indireto.

Conduta da Prefeitura em questão

O episódio coloca em xeque a conduta da administração municipal de Três Lagoas, que, diante de uma situação de ampla repercussão, ainda não ofereceu esclarecimentos convincentes à população. Se, por um lado, o contrato pode ter seguido os trâmites legais, por outro, o contexto atual exige uma investigação mais profunda sobre as relações entre o poder público municipal e um escritório de advocacia diretamente ligado a um magistrado afastado por corrupção.

As questões levantadas pelo contrato são preocupantes: a prefeitura, de fato, buscou o escritório mais avançado para a prestação de serviços, ou o vínculo com Alexandre Bastos, então desembargador, teve influência? O silêncio da administração apenas intensifica os questionamentos e cria uma sombra sobre a lisura da gestão pública.

O que está em jogo?

O contrato entre a Prefeitura de Três Lagoas e o escritório Bastos, Claro & Duailibi é mais do que uma simples questão administrativa — envolve a confiança da população no sistema de justiça e na supervisão das instituições públicas. Em um momento em que o Judiciário do Mato Grosso do Sul é alvo de uma das maiores investigações da história do estado, o vínculo entre o poder público municipal e o escritório de advocacia da filha de um magistrado investigado por corrupção coloca uma pressão significativa sobre a prefeitura para fundamentar suas ações.

As perguntas que permanecerão no ar são: teria a prefeitura favorecida o escritório em troca de alguma vantagem futura? Até que ponto essa contratação foi baseada na competência técnica ou nas políticas de conexões? A resposta a essas questões poderá revelar muito mais sobre a relação entre o poder público e o sistema de justiça do que se imagina.

Enquanto as investigações da Polícia Federal avançam, a expectativa da população é por transparência e justiça — tanto no âmbito judicial quanto administrativo.

Contrato atual celebrado entre a Prefeitura de Três Lagoas e escritório de advocacia investigado (Foto Divulgação)

 

Fonte: Jornal raio x

https://www.jornalraiox.com.br/tres-lagoas/noticia/9335/escritorio-de-advocacia-de-filha-de-desembargador-afastado-tem-contrato-milionario-com-a-prefeitura-de-tres-lagoas