RACISMO NO BRASIL: FATOS E REALIDADES

 RACISMO NO BRASIL: FATOS E REALIDADES
Foto Mara Núbia dos Santos – Professora e estudante no curso de Mestrado Estado, Governo e Políticas Públicas- (2020, Flacso Brasil/Perseu Abramo).
 RACISMO NO BRASIL: FATOS E REALIDADES

 

 

Para entender e reconhecer que o Brasil ainda continua um país racista em pleno século XXI, precisamente em 2020, é indispensável fazer uma análise mais acurada para compreender a formação do Estado brasileiro desde o período colonial até o formato em que se encontra atualmente, tendo como base principal a ótica dos interesses econômicos e políticos responsáveis pela estratificação social e o racismo cordial, partindo do ponto que grande parte da sociedade é formada por negros.

            Nesse sentido, após 132 anos de abolição da escravatura, a miscigenação racial, levou a sociedade crer que não existe racismo no Brasil. Assim, ao invés do racismo declarado, desenvolveu-se no país uma forma polida de discriminações que escondem ações e comportamentos nas relações sociais e privadas que aparentemente são toleradas publicamente. 

            As desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil encontram-se registradas nos últimos dados do IBGE e pode ser verificadas no link:https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.pdf.

            Toda história brasileira está pautada no sistema escravista. Alencastro (2010) “faz referência ao passado histórico marcado pela presença de negros arrancados a força de suas famílias e trazidos ao Brasil pela prática do tráfico negreiro. Esse é  um dos fatos que marcaram  a formação do Estado brasileiro desenvolvido e estruturado na violência e em meio a miséria.” O autor faz menção ao escravismo moderno com aparente liberdade  como forma de regulamentar a propriedade privada e a liberdade pública, contidas no Código Penal, Constituição de 1824 e no Código Criminal de 1830 que tratava especificamente ao aprisionamento de escravos.           

            Dentre esses e os demais fatos ocorridos no decorrer do tempo  é necessário considerar o passado histórico como viés para compreender  o presente e defender políticas afirmativas para perfeiçoar a democracia, combate à desigualdade social, dar direitos aos grupos étnicos uma maior participação na sociedade, não como forma  de reparar o mal causado pela escravidão, mas como cidadão protagonista na formação do Estado.

            Como é sabido, o Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão. Desde 1888, mesmo os negros sendo maioria da população ainda sofrem opressão e discriminação. O racismo brasileiro está na cor da pele e não na raça, até porque os brasileiros não enxergam os afrodescendentes como uma raça separada, mas é evidente a predominância da ideologia de cor nas relações de poder que cordialmente levam as pessoas negras tornarem-se vítimas da segregação social.   

            Presenciamos cotidianamente o faz de conta da democracia racial, quando na realidade o racismo está impregnado na cultura política, nas relações de poder e se reproduz frequentemente na família, nas escolas, igrejas, nos aparelhos ideológicos do Estado, nos meios de comunicação e nos espaços institucionais de poder.

            Fatos recentes de agressões contra vidas negras tem abalado o mundo e provocado diversos protestos e indignações. Podemos citar alguns para refrescar a memória de alguns desprovidos de conhecimentos sobre História do Brasil e insistem dizer que “Tensões entre raças no Brasil são importadas e alheias à nossa história”, “No Brasil, não existe racismo”, “Racismo é coisa que querem importar para o Brasil”. Me pergunto será que os dados do IBGE são falsos? O que foi então o episódio do entregador do Ifood? A agressão em um shopping na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro? O desacato no Ceresp, onde um advogado de 46 anos ofendeu agentes penitenciários no Ceresp da Gameleira em BH, chamando uma agente de “vagabunda” e outro de “Preto filho da puta”? A agressora que acessou o instagran do ator Bruno Gagliasso dizendo que: “Não entendia por qual motivo as pessoas ficavam elogiando aquela macaca” e disse mais “a menina é preta, tem cabelo horrível, bico de palha e tem um nariz preto horrível” . O que dizer do caso George Floyd nos EUA, o assassinato de Marielle Franco, socióloga, negra, mãe solteira, lésbica, criada no complexo da Maré e defensora dos direitos humanos? Seria obra do destino ou me parece bem óbvio, uma semana antes de sua execução ela havia denunciado casos de abusos de violência policial no bairro do Acari, no Rio.

            Continuo indagando-me, o que seria então o fato recente, às vésperas do dia da Consciência Negra, o assassinato estúpido e impiedoso do negro João Alberto Silveira Freitas de 40 anos? Nada justifica o ato brutal e violento que ocasionou sua morte. Chego a sentir falta de ar quando George Floyd em suas últimas palavras dizia: “não consigo respirar”, enquanto um policial mantém o joelho sobre seu pescoço. Sinto o desespero de João quando gritava “Não consigo respirar” e pedia para sua esposa ajudá-lo.

            Admiravelmente ao escrever esse texto no dia 22 de novembro de 2020, às 13h44 minutos me deparo com uma notícia quentinha de racismo no Brasil, logo o meu país que alguns insistem afirmar que não existe racismo, acrescento, há quem diga que: “Um branco até senta perto de um negro”. Pasmem a reportagem foi publicada em vários sites de notícias. Neste exato momento me reporto especificamente ao site G1 “Polícia localiza suspeito de ameaçar de morte a primeira vereadora negra de Joinville.” Embora tenham dito na reportagem que o indivíduo sofra de esquizofrenia, caso ainda não comprovado por um profissional de saúde que tenha o aval para emitir esse diagnóstico. O que se sabe até então que os comentários publicados em uma rede social do agressor, dizia: “Os fascistas mandaram avisar que ela que se cuide”, “Agora só falta a gente m4t4r el4 (sic) e entrar o suplente que é branco.”

            Esses acontecimentos citados anteriormente foram evidenciados pela mídia com forte repercussão nacional e mundial. Dentre muitos outros crimes, assassinatos, estupros, maior índice de desemprego, maior índice de comunidades abaixo da linha de pobreza, vivendo em péssimas condições de moradia, menos acesso aos bens públicos no que tange a saúde, educação e cargos de destaques na sociedade. Muitas das vezes não são levadas em consideração e muito menos tem tido repercussão em manchetes nos jornais mais lidos e em sites mais acessados.

            Afinal, o que podemos concluir a respeito de todo esse enredo? Pois bem, a sociedade brasileira é formada no modelo patriarcal, na violência e na confusa miscigenação de raças trazendo para o presente a diversidade cultural, religiosa, a estratificação social e o modelo capitalista atrelado ao consumismo desenfreado. Uma sociedade que ainda traz resquícios aristocráticos, patriarcalista e escravocrata. Um país que tem grande dificuldade em diferenciar o que é público e privado quando se refere ao Estado. O racismo sutilmente ainda permeia em nosso cotidiano tornando-se mais difícil de ser visto, analisado e combatido.

            No entanto, faz-se necessário que a sociedade brasileira seja urgentemente educada de forma que tenham consciência de que o racismo existe, deve ser combatido e eliminado, mas para que isso aconteça é de suma importância a elaboração de políticas públicas e ações que  conscientize  o povo de quão grave são as consequências causadas pelo racismo na formação da identidade dos negros no Brasil. Essa consciência e o combate é essencial para vivermos em uma sociedade humana, igualitária, com direitos a exercer a cidadania como protagonista de um Brasil cada vez melhor para viver em paz e harmonia. #vidasnegrasimportam - #maisamorporfavor.

Por Mara Núbia dos Santos – Professora e estudante no curso de Mestrado Estado, Governo e Políticas Públicas- (2020, Flacso Brasil/Perseu Abramo).